APRESENTAÇÃO



As apreensões recentes face às mudanças climáticas, potencializadas pela crise sanitária e ambiental, vêm impondo transformações na paisagem, e com isso, grandes desafios para as Práticas do Paisagismo. Nesse percurso reflexivo, somos constantemente atravessados pelas lições apreendidas por sujeitos - seus saberes e vivências do cotidiano - que nos mostram formas diversas de ler e viver a paisagem, pelas Artes e por Profissionais (Precursores e Atuantes) do nosso campo.

A partir dessas inspirações que nos movem e renovam a nossa esperança, entregamo-nos ao desafio de organizar o 16º Encontro de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil (ENEPEA), a ser realizado em Cuiabá, Mato Grosso, paisagem Centro-Oestina e Amazônia Legal, com a necessidade de reconhecer outras realidades no contexto brasileiro, somado ao desafio da retomada gradativa das vivências e atividades presenciais, quando ainda nos vemos processando os efeitos dos tempos recolhidos da pandemia, apartados do convívio nas ruas, praças, parques, dos espaços livres públicos, da paisagem.

Com “o[s] olho[s] vê[mos]” e admitimos limitações e avanços de nossa trajetória, e daqueles que vieram antes de nós. No entanto, vemos nossa vontade de juntos (re)conhecermos a paisagem como objeto multiescalar, de múltiplas formas e multidimensional (socioeconômico, cultural, ambiental) e tema transversal, - para ir além do campo disciplinar do Paisagismo -, em diálogo com os demais de Teoria e História, de Planejamento e Projeto e Tecnologia, e tantos outros saberes e experiências, permeando a formação do Arquiteto e Urbanista, na integração entre as práticas de ensino, pesquisa e extensão.

Com “a lembrança revê[mos]” que paisagens de Cuiabá, Mato Grosso (e do Brasil) foram silenciadas e transformadas pela técnica e tecnologia. A cada ano, a cada década, são novas configurações do urbano e rural (e híbridas). À paisagem, vem sendo incorporados “ares de modernização” e símbolos monumentais da economia, que abrigam um conjunto de ações que exigem complexas articulações urbanas, regionais e transnacionais. “[N]a expressão reta [que] não sonha [e usa] o traço acostumado”. Na paisagem transescalar da regra dominante, indiferente e homogênea, há singularidades a revelar? Nos lugares da história e da memória, também fomos transformados. Somos Pantanal, Cerrado, Amazônia, Araguaia (e vocês, quem são?), mas também o moderno que reside em nossas cidades e campos tradicionais. Somos a existência, resistência e diversidade dos povos que atravessam, vivem nos corixos, rios, vias desacostumadas que unem os campos e as florestas, terras indígenas, quilombos, comunidades tradicionais,centros antigos e periferias das cidades, em um conjunto de ações que exigem complexas articulações cotidianas, comunitárias e afetivas. Na paisagem multiescalar singular, generosa, e heterogênea, há homogeneidades a revelar?

Revemos que todos fomos atravessados por 1994: o MEC estabeleceu as diretrizes do currículo mínimo, entre elas, a obrigatoriedade do Ensino do Paisagismo; o primeiro curso de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso foi criado em Cuiabá, na UFMT e; no Rio de Janeiro, aconteceu o I ENEPEA. No encontro tomavam forma e movimento os debates, anseios e trabalho de décadas, de agentes atuantes nas mais diversas frentes da prática profissional da Arquitetura Paisagística, desde as instituições de ensino superior aos escritórios e entidades espalhados pelo Brasil.

Com “a imaginação transvê[mos] o mundo”, sempre refletindo sobre nossos (per)cursos, potencializando a nossa criatividade para superar limitações e avançar na formação e prática da Arquitetura Paisagística, suas abordagens teórico-conceituais e metodológicas. Transver o mundo (das paisagens) é criar oportunidades para apre(e)nder, descobrir, dialogar e expandir nossos modos de agir com os mais diferentes saberes, escalas, nas realidades brasileiras.

ENEPEA Cuiabá - 2022 é um convite ao desvio do ”traço acostumado”, o menor percurso entre dois pontos, é se embrenhar mato adentro, geograficamente, ao Centro(Oeste) do Brasil, da América do Sul, é um convite à partilha de experiências, vivências e imersões nos territórios, nos lugares, para TRANS.VER.PAISAGENS.