“Nas veredas da pesquisa, com quem nos comunicamos e para onde queremos ir?”
O XX Encontro de Pesquisa em Ensino de Física - EPEF foi realizado em Recife (PE), entre os dias 19 e 23 de agosto de 2024, no Complexo de Convenções, Eventos e Entretenimento da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Após duas edições em formato remoto, em decorrência do isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19, nossa comunidade ansiava por esse encontro presencial. Muitas pessoas não se viam pessoalmente desde 2018, quando aconteceu a XVII edição do evento em Campos do Jordão (SP).
O evento teve como temática: “Nas veredas da pesquisa, com quem nos comunicamos e para onde queremos ir?”. Nossa inquietação com o tema foi refletir sobre as trajetórias da e na pesquisa em Ensino de Física, seus impactos e futuro, defendendo uma comunicação no sentido freireano, visto que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” .
Há quase quarenta anos, desde sua criação, em 1986, o EPEF tem se constituído em um espaço privilegiado para o diálogo entre pesquisadores(as) de diferentes regiões do Brasil, promovendo reflexões e ações de cunho político, científico e educacional. Chegando na vigésima edição, o EPEF foi um momento de ricas e intensas discussões em que podemos avaliar de que modo nossos estudos estão se comunicando com diferentes professores e pesquisadores e como têm impactado a própria área de pesquisa, mas também, e sobretudo, a realidade das aulas de Física no Brasil.
Além do marco de sua vigésima edição, esta foi a primeira vez que o EPEF aconteceu, como um evento isolado, na região nordeste. Além disso, este EPEF, diferente de muitas outras edições, fez uso da estrutura física de uma universidade para a realização das atividades. A escolha por utilizar o Centro de Convenções da UFPE está atrelada, também, ao financiamento pouco extensivo recebido, especialmente, após o projeto encaminhado ao CNPq não ter sido aprovado. Com um orçamento enxuto, era preciso tomar decisões e utilizar instalações da universidade para que as atividades tornassem os gastos bem menos volumosos. Apesar disso, é preciso ressaltar que recebemos apoio parcial da CAPES e da FACEPE, além da SBF, ADUFEPE e Papelaria Tree.
A partir da temática, o XX EPEF procurou criar uma programação com diferentes espaços para promoção de diálogos, discussões e debates. Os nomes e temáticas foram decididos a partir da consulta à comunidade. Embora o evento tenha ocorrido presencial em agosto de 2024, algumas atividades já haviam sido iniciadas alguns meses antes, mais precisamente em fevereiro, com a primeira live da série “Esquenta EPEF”. Esta ação foi planejada para motivar a participação no evento, tratar de questões relevantes da área, contribuir com a formação da comunidade e iniciar o diálogo em torno da temática do evento. Ao todo foram realizadas cinco lives entre os meses de fevereiro e julho, as quais estão disponíveis na página oficial do evento (https://www1.fisica.org.br/~epef/xx/index.php/pt/esquenta-epef) e no canal da SBF no Youtube: (https://www.youtube.com/c/SociedadeBrasileiradeF%C3%ADsica). Os temas tratados foram: “elaboração de pareceres formativos” por Geide Rosa Coelho e Glauco dos Santos Ferreira da Silva, com a mediação de Lúcia Helena Sasseron; “possibilidades de pesquisas em ensino de física na pós-graduação” por Kátia Calligaris Rodrigues e Silvana Perez, com a mediação de Tassiana Carvalho; “implicações da TDIC nas pesquisas em ensino de física” por Estéfano Vizconde Veraszto e Raul dos Santos Neto, com a mediação de André Ary Leonel; “aproximações entre física e arte na pesquisa em ensino de física: aproximações com a obra de João Zanetic” por Emerson Ferreira Gomes e Flávia Polati Ferreira, com a mediação de João Eduardo Fernandes Ramos; e “inclusão e acessibilidade nas pesquisas em ensino de física” por Jaqueline Vargas Plaça e Éder Pires de Camargo com a mediação de Alexandre Campos.
Durante o segundo semestre de 2023 até meados de janeiro de 2024, aconteceu a chamada de trabalhos - que poderiam ser apresentados em formato de comunicação oral e pôster - e que deveriam ser submetidos em uma das dez linhas temáticas do evento, que a Comissão Organizadora procurou reorganizar considerando experiências de edições anteriores e temáticas emergentes do campo. Ao final, as linhas temáticas do XX EPEF foram: 1 - Ensino e aprendizagem em Física; 2 - Formação e ação docente em Física; 3 - Epistemologia, Filosofia, História e Sociologia da Ciência e o Ensino de Física; 4 - Práticas educativas formais, informais e não formais e o Ensino de Física; 5 - Tecnologias da informação e comunicação e o Ensino de Física; 6 - Linguagem e Cognição no Ensino de Física; 7 - CTS/CTSA, Alfabetização Científica, Letramento Científico e Alfabetização Científica e Tecnológica no ensino de Física; 8 - Avaliação, Currículos e Políticas em Educação e o Ensino de Física; 9 - Questões teórico-metodológicas e novas demandas na pesquisa em Ensino de Física; e 10 - Equidade, inclusão, diversidade e estudos culturais e o Ensino de Física.
O evento teve 312 inscritos, sendo que desses, 116 mulheres (37,2%), 195 homens (62,5%) e 1 “outros”. Com relação às categorias das inscrições, tivemos: 69 alunos de iniciação (22%), 61 graduados (20%), 78 mestres (25%) e 104 doutores (33%). Com isso, destaca-se, em relação às edições anteriores, um aumento expressivo no número de estudantes de graduação e graduados que participaram do XX EPEF.
Foram 380 trabalhos submetidos, que foram avaliados por 2 ou três árbitros, exigindo 928 pareceres. Os trabalhos submetidos foram principalmente das regiões sudeste (38%) e nordeste (30%). Com relação às linhas temáticas, a linha com maior número de trabalhos foi a 1- Ensino e aprendizagem em Física (24,3%), e a que teve menor número foi a 6- Linguagem e Cognição no Ensino de Física (1,2%). Ao final, 251 trabalhos foram aceitos, dos quais 196 foram apresentados como comunicação oral e 55 como pôster. As apresentações aconteceram em 37 sessões de comunicação oral e 2 de pôster.
Durante a semana de agosto em que o XX EPEF aconteceu presencialmente, a primeira atividade foram as Escolas de Formação, que ocorreram no dia 19 de agosto de 2024, das 13h30 às 17h30. As escolas foram ministradas por pesquisadores da área e trataram das seguintes temáticas: “A interação de saberes e práticas para superar as desigualdades na divulgação científica”, de Graciella Watanabe e Guilherme Lima; “Abrindo algumas caixas do processo de editoração em periódicos”, de Geide Rosa Coelho; “Fundamentos teóricos e metodológicos da Teoria da Atividade: subsídios para a pesquisa em Ensino de Física”, de André Machado Rodrigues; e, “Interculturalidade e Ensino de Física: pesquisa e formação de professores” de Gloria Regina Pessoa Campello Queiroz e Bernardo Correa Massaud.
A conferência de abertura aconteceu na noite do dia 19 de agosto, na Concha Acústica da UFPE, tendo como título “Porosidade do ensino das ciências naturais: Com quem nos comunicamos e para onde queremos ir?”. A palestra foi ministrada pela professora doutora Emília Afonso Nhalevilo, que é membro do conselho de editores da revista Cultural Studies in Science Education desde 2008 e considerada pela African Shapers, em 2021, uma das 100 pessoas mais influentes da África Lusófona. A professora Emília possui o grau de Doutoramento em Educação de Ciências pela Universidade de Curtin, Austrália, fez um pós-doutoramento na Universidade do Cabo Ocidental, na África do Sul e foi Fulbright Scholar na Universidade de Nova York, EUA. É Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão, Brasil. É Reitora da Universidade Pungue, tendo sido a primeira mulher em Moçambique a ocupar este cargo em Universidades Públicas.
As salas em que as comunicações orais foram realizadas receberam nomes em homenagem a algumas pessoas que contribuíram substancialmente com o desenvolvimento da nossa área e já partiram, deixando um grande legado e memórias que foram reavivadas ao longo do evento. Tivemos seis salas, as quais levaram o nome de: Alberto Gaspar, Beatriz Alvarenga, Beto Fininho, João Zanetic, José de Pinho e Marta Pernambuco.
Além das sessões de comunicações orais, o evento contou com sessões de pôsteres e quatro mesas redondas, que ocorreram nas manhãs de 20 a 23 de agosto. As temáticas e pesquisadores procuraram atender às sugestões da comunidade e ampliar os diálogos acerca do tema geral deste EPEF. Assim, tivemos as seguintes mesas redondas: “Comunicação ou extensão? Como nossas pesquisas têm rompido as bolhas?”, com Gisele Watanabe (UFABC), Francisco de Assis do Nascimento Júnior (UFSB), Simoni Tormöhlen Gehlen (UESC); “Interculturalidade nas Pesquisas em Ensino de Física”, com Vitor Fabrício Machado (UFPR), Gloria Regina Pessoa Campello Queiroz (UERJ), Gustavo de Alencar Figueiredo (UFCG); “Memórias da área: ‘de onde partiu a caminhada nas veredas?’”, com Adriana Dieckmann (PUC-MG), Luis Carlos de Menezes (USP), Jenner Barretto Bastos Filho (UFAL); e, “Políticas públicas e Formação de professores de Física”, com Paulo Lima Júnior (UnB), Glauco dos Santos Ferreira da Silva (CEFET-RJ), Iramaia Jorge Cabral Paulo (UFMT).
Por fim, o encerramento do XX EPEF aconteceu no final da tarde do dia 23 de agosto, com a Conferência de Encerramento cujo título, também era uma provocação ao diálogo: “Quais papéis cabem agora a quem faz pesquisa em ensino no Brasil?”. A conferência foi ministrada por Arnaldo Vaz (ColTec-MG), Secretário para Assuntos de Ensino da Sociedade Brasileira de Física.
O evento foi marcado por muitos encontros, diálogos e trocas, mostrando a saudade que estava uma comunidade que não se encontrava presencialmente desde 2018. O evento permitiu o fortalecimento de laços para continuar a caminhada nas veredas da pesquisa em Ensino de Física buscando um diálogo mais amplo com toda comunidade e sociedade.
Comissão Organizadora do XX EPEF
André Ary Leonel (UFSC) - Coordenador Geral
Alexandre Campos (UFCG)
João Eduardo Fernandes Ramos (UFPE)
Lúcia Helena Sasseron (USP)
Tassiana Fernanda Genzini de Carvalho (UFPE)